Sem sessão nesta sexta-feira (4), os preços do açúcar registraram quedas próximas a 2% nos principais contratos futuros na Bolsa de Nova Iorque no acumulado desta semana. Em Londres, o recuo semanal ficou próximo a 1%. Mesmo com a alta de 5% na última sessão, impulsionada pelos primeiros impactos da geada nos canaviais brasileiros, o cenário geral permanece de pressão sobre os preços, refletindo o excesso de oferta e a demanda ainda enfraquecida.
Na Bolsa de Londres, os futuros do açúcar branco encerraram esta sexta com variações moderadas e mistas. O contrato agosto/25 recuou 70 pontos (0,15%), cotado a US$ 480,80 por tonelada. O outubro/25 avançou 280 pontos (0,59%), encerrando a US$ 473,70. O dezembro/25 subiu 360 pontos (0,78%), negociado a US$ 463,20, enquanto o março/26 teve alta de 380 pontos (0,82%), fechando a US$ 468,70 por tonelada.
Na variação semanal, o agosto/25 acumulou uma queda de 0,80%. O contrato outubro/25 recuou 0,08% ao longo da semana. O dezembro/25 registrou perda de 0,79%, enquanto o março/26 teve baixa de 0,28%.
Entre os futuros da Bolsa de Nova Iorque, o contrato outubro/25 recuou 1,96% na semana, passando de 16,71 para 16,38 cents/lbp. O março/26 teve baixa de 1,78%, caindo de 17,37 para 17,06 cents/lbp. Já o maio/26 recuou 1,41%, de 17,00 para 16,76 cents/lbp.
Em entrevista ao Notícias Agrícolas na última quinta-feira (03), Mauricio Muruci, analista da Safras & Mercado, destacou que as entregas do contrato de açúcar com vencimento em julho/25 de Nova Iorque foram as menores dos últimos sete anos, com pouco mais de 100 mil toneladas. Esse número surpreendeu o mercado, já que, desde outubro/23, os volumes de entrega vinham se mantendo entre 1,5 e 2 milhões de toneladas.
Segundo Muruci, o baixo volume indica uma demanda fraca por parte das indústrias internacionais. Isso pressiona os preços para baixo, seguindo a lógica clássica da oferta e demanda.
Além disso, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) projetou um superavit global de 11 milhões de toneladas para a safra 2025/26, o maior também em sete anos. Essa combinação — demanda fraca e excesso de oferta — reforça a tendência de queda nos preços no médio prazo.
Mesmo com oscilações pontuais, como a alta de 5% registrada ontem, o analista observa que o mercado de açúcar está em queda consolidada desde março de 2025.
A alta de 5% registrada na última quinta-feira no mercado futuro de açúcar em Nova Iorque foi impulsionada pelas primeiras indicações concretas de impactos da geada ocorrida na última semana de junho sobre os canaviais do Centro-Sul do Brasil.
De acordo com Muruci, mesmo antes da geada, a safra 2025/26 já enfrentava uma perspectiva de quebra. A consultoria previa uma moagem de 608 milhões de toneladas de cana, abaixo das 614 milhões registradas na safra anterior. Com os danos causados pela geada, essa estimativa foi revisada para 603 milhões de toneladas — uma redução adicional de aproximadamente 5 milhões de toneladas.
Muruci explicou que os efeitos da geada demoram de 8 a 10 dias para se manifestarem nos canaviais. Como a frente fria ocorreu na quarta semana de junho, os primeiros sinais começaram a aparecer exatamente na semana seguinte, sendo captados pelos agentes do mercado internacional. Essa percepção reforçou a preocupação com a oferta e contribuiu diretamente para a valorização dos contratos na ICE Futures.
O analista acrescentou ainda que uma nova massa de ar polar atinge o Sul do Brasil nesta primeira semana de julho e deve seguir atuando por mais alguns dias. No entanto, até o momento, essa frente fria não alcança os canaviais do Centro-Sul, nem mesmo o norte do Paraná — região relevante para a produção de cana. Por isso, a recente valorização em Nova Iorque está ligada exclusivamente aos efeitos da geada ocorrida na última semana de junho, cujos impactos começaram a ser percebidos agora.
Além dos impactos da geada, Muruci apontou que a alta de 5% registrada na última quinta-feira também foi influenciada por um movimento técnico de correção no mercado. Nos três primeiros dias da semana, os contratos futuros do açúcar em Nova Iorque acumularam quedas significativas — cerca de 6,5% no total, com recuos sucessivos na segunda, terça e quarta-feira.
Segundo o analista, o avanço de quinta-feira representa, em parte, uma reação estatística à forte desvalorização que vinha sendo registrada desde o início da semana. Ele ressalta, no entanto, que esse movimento ainda está longe de sinalizar uma mudança na tendência de médio prazo, que segue negativa desde março deste ano.
Para Muruci, o salto nos preços combina os primeiros sinais concretos dos danos causados pelas geadas ao canavial do Centro-Sul com essa recuperação pontual do mercado, e não representa, por ora, uma reversão de cenário.