Às vésperas da colheita da safra de manga no Brasil, produtores que se organizam para exportar à América do Norte enfrentam um cenário de insegurança após o governo dos Estados Unidos anunciar a imposição de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. A medida, determinada pelo presidente Donald Trump, entra em vigor a partir de 1º de agosto e pode afetar diretamente cerca de 3 mil contêineres de manga já programados para embarque rumo ao mercado norte-americano.
A preocupação foi levada ao Governo Federal nesta terça-feira (15) pelo presidente da Associação Brasileira dos Produtores Exportadores de Frutas (Abrafrutas), Guilherme Coelho, durante reunião em Brasília com representantes do agronegócio e membros do comitê interministerial liderado pelo vice-presidente Geraldo Alckmin. A fruticultura foi um dos setores ouvidos pelo governo na busca por estratégias de negociação com os Estados Unidos para tentar reverter ou mitigar os efeitos da medida.
“Estávamos com a expectativa de exportar quase três mil containers de manga nesta próxima safra. Agora, os produtores estão inseguros e temorosos, pois já se organizaram para exportar para os Estados Unidos. Compraram as embalagens, acertaram com os distribuidores. Não é possível redirecionar essa produção para a Europa ou mercado interno sob o risco de colapsar os dois mercados”, alertou Coelho.
Segundo dados da Abrafrutas, os Estados Unidos absorveram 14% do volume de mangas exportadas pelo Brasil em 2024, o que correspondeu a 13% do faturamento total da fruta no mercado externo. Considerando todas as frutas, o país representou 7% do volume exportado e 12% da receita total do setor no ano passado.
Em comunicado oficial, a Abrafrutas destacou que o relacionamento comercial entre exportadores brasileiros e importadores americanos sempre foi baseado em “respeito mútuo, equilíbrio e elevado nível de profissionalismo”, e manifestou apoio às iniciativas de negociação conduzidas pelos governos dos dois países para retomar um ciclo virtuoso nas relações bilaterais.
Também posicionou-se contra a medida a International Fresh Produce Association (IFPA) Brasil, que representa produtores, exportadores e agentes da cadeia de suprimentos de frutas, flores, legumes e verduras. A entidade declarou estar preocupada com a decisão dos EUA de impor tarifas sobre categorias agrícolas e produtos frescos estratégicos.
“Essas novas tarifas aumentadas introduzem incerteza e ameaçam os ganhos conquistados a duras penas pelos produtores locais na obtenção de espaço em prateleiras e na confiança do consumidor no exterior”, afirmou Valeska de Oliveira Ciré, country manager da IFPA Brasil.
Para a entidade, os produtos frescos têm papel essencial na saúde, na nutrição e na segurança alimentar, e por isso devem ser isentos de tarifas sempre que possível. “Garantir acesso justo ao mercado não é apenas uma questão do setor — é uma prioridade nacional”, reforçou Ciré.
Enquanto as conversas diplomáticas seguem em andamento, o setor exportador permanece mobilizado. A expectativa das entidades é de que, com diálogo, seja possível garantir a exclusão dos alimentos das tarifas e evitar prejuízos para ambos os lados da cadeia produtiva.
“Não é justo e razoável taxar alimentos. A aplicação de 50% nas tarifas trará prejuízos enormes para os dois países. Os americanos poderão ter que lidar com escassez de alimentos, inflação dos preços e até desemprego, já que a indústria de lá compra matéria prima brasileira para beneficiamento. Os prejuízos no Brasil também serão enormes, nossos produtores não terão mercado consumidor que absorva a sua produção e terão que demitir funcionários. Estamos falando de milhares de famílias que poderão ficar sem renda, sem comida na mesa”, advertiu o presidente da Abrafrutas.