O Itaú BBA divulgou nesta sexta-feira (4) a 6ª edição do Visão Agro, relatório anual que traça o panorama do agronegócio brasileiro para o ciclo 2025/26. Pela terceira safra consecutiva, o banco inicia o período com uma mensagem de cautela, diante de um ambiente de maior complexidade para o setor.
O estudo, produzido pela Consultoria Agro do Itaú BBA, aponta que o novo ciclo começa sob efeito de um cenário global adverso. Juros elevados, desaceleração econômica e geopolítica — com destaque para os conflitos no Mar Negro e no Golfo Pérsico — pressionaram os custos de energia e fertilizantes, insumo em que o Brasil é altamente dependente de. A situação se agrava diante dos preços em baixa das principais commodities agrícolas, o que exige dos produtores maior atenção à gestão de custos e câmbio.
“Cada cultura convive com nuances distintas, mas o cenário geral tem exigido atenção em todos os cultivos e elos da cadeia. O índice de inadimplência no setor vem aumentando e impactando alguns segmentos de forma mais significativa. Esse movimento, somado aos riscos de restrições na relação de troca com fertilizantes e aos desafios na gestão cambial, tem pressões o crédito disponível para o setor”, afirma Cesar de Castro Alves, gerente da Consultoria Agro do Itaú BBA.
O Visão Agro 2025/26 aponta que a formação de custos da próxima safra será mais solicitada. A alta dos fertilizantes tende a se intensificar com a instabilidade no Oriente Médio, deteriorando as relações de troca para diversas culturas. O milho safrinha é um dos mais impactados, com aquisições atrasadas, mas a pressão também alcança culturas perenes como café, laranja e cana-de-açúcar, que tradicionalmente realizam compras ao longo do segundo semestre.
No mercado de grãos, a valorização recente do real tem sido incentivada, entretanto, em um momento em que setores como o de arroz precisamiam exportar. O produtor de trigo também enfrentou dificuldades para competir com o cereal argentino, o que contribui para a perspectiva de redução da área plantada.
Entre os consumidores de grãos, o cenário é mais favorável. De acordo com o relatório, o setor de proteínas animais, especialmente a bovinocultura, deve atravessar um bom momento, impulsionado pela queda no custo da ração, aumento nos confinamentos e firme demanda internacional. A menor produção nos Estados Unidos e os preços elevados da carne norte-americana reforçam a competitividade brasileira no mercado externo.
Para o Itaú BBA, outra oportunidade vem dos mandatos previstos na Lei do Combustível do Futuro que devem ampliar a demanda por biocombustíveis, especialmente aqueles produzidos a partir de soja, milho e cana-de-açúcar, criando oportunidades adicionais para a produção rural. Como consequência, cresce também a oferta de farelo de soja e DDG, que já beneficia o setor de proteínas animais. Essa tendência tende a se consolidar, reforçando a competitividade das cadeias produtivas.
“Enfrentar os desafios estruturais, como infraestrutura, acesso ao financiamento e segurança no ambiente de negócios, é condição necessária para destravar novas oportunidades e garantir a competitividade do setor no longo prazo”, finaliza Alves.