Por Fernando Cardoso
SÃO PAULO (Reuters) – O dólar à vista tinha leve baixa ante o real nesta quinta-feira, devolvendo ganhos acumulados mais cedo, conforme os investidores monitoravam a forte alta da bolsa brasileira e avaliavam dados de emprego melhores do que o esperado nos Estados Unidos, que atenuaram apostas de cortes na taxa de juros nos EUA.
Às 11h35, o dólar à vista caía 0,14%, a R$5,4115 na venda.
Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento tinha baixa de 0,25%, a R$5,449 na venda.
Na quarta-feira, o dólar à vista fechou com baixa de 0,77%, a R$5,4191, na menor cotação desde 19 de agosto do ano passado.
A moeda brasileira avançava nesta sessão na esteira dos ganhos do mercado de ações brasileiro, que ajudava a atrair o fluxo de dólares de investidores estrangeiros para o país. O Ibovespa avançava 1,18%, a 140.694,95 pontos nesta quinta-feira.
A divisa ainda acompanhava o avanço de alguns de seus pares emergentes, como o peso mexicano e o rand sul-africano, diante de preços mais altos de commodities importantes para esses países, como o minério de ferro.
Analistas também têm pontuado que o alto patamar da taxa básica de juros Selic, a 15%, mantém um certo grau de atratividade para a moeda brasileira devido ao potencial de retorno de rendimentos.
Mais cedo, por outro lado, o real chegou a perder contra o dólar, uma vez que a divisa dos EUA segue forte no exterior ante a maioria de seus pares, depois que o governo norte-americano informou que foram criados 147.000 postos de trabalho em junho, acima dos 144.000 empregos abertos em maio.
O resultado veio bem acima do esperado por economistas em pesquisa da Reuters, que projetavam a criação de 110.000 vagas. O relatório ainda mostrou que a taxa de desemprego caiu para 4,1% em junho, de 4,2% em maio. A expectativa era de que a taxa subiria para 4,3%.
Os números de emprego, que eram amplamente aguardados durante toda a semana, vieram na contramão de dados recentes que mostraram uma inflação moderada e uma desaceleração do mercado de trabalho, o que vinha fomentando as apostas em cortes de juros pelo Fed.
Com o novo sinal de força do mercado de trabalho desta quinta, operadores passaram a precificar 52 pontos-base de afrouxamento monetário neste ano, de 66 pontos antes do relatório. As chances de um corte já na próxima reunião, em julho, estavam em 6%, de 24% mais cedo.
Os dados ainda devem reforçar a atual postura defendida pelo chair do Fed, Jerome Powell, que tem dito que o banco central dos EUA não tem pressa para reduzir os juros, uma vez que aguarda evidências dos impactos de tarifas comerciais sobre a inflação.
O índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — subia 0,37%, a 97,113.
Logo após a divulgação dos dados, o dólar chegou a subir frente ao real, atingindo a máxima do dia de R$5,4465 (+0,51%), às 9h50. No decorrer da manhã, no entanto, a moeda devolveu todos os ganhos e passou a cair.
Para moedas mais arriscadas, como o real, o adiamento das apostas em cortes de juros tende a ser um fator de pressão, já que indica um diferencial de juros menos atrativo para investimentos estrangeiros do que o esperado anteriormente.
“Acho que (dado de emprego dos EUA) foi um reflexo pontual, amenizado com o contraponto de fluxo. Nossa bolsa vai muito bem. Emergentes como um todo têm ganhado tração na esteira de ganhos de commodities”, disse Fernando Bergallo, diretor de operações da FB Capital.
Para além da agenda de dados, as negociações comerciais em andamento dos EUA com seus parceiros também podem afetar as negociações ao longo do dia, à medida que se aproxima o prazo de 9 de julho para que os países fechem acordos a fim de evitar a imposição de tarifas comerciais mais altas.
Mais tarde, as negociações podem ter menor liquidez, uma vez que os mercados dos EUA fecham mais cedo, às 14h, e permanecerão fechados na sexta-feira devido ao feriado do Dia da Independência.
(Por Fernando Cardoso)